Deixamos de reparar nos milhares de detalhes que estão ali ao redor nos fazendo bem, mas notamos aqueles mínimos que nos perturbam. Por que quando crescemos deixamos a nossa criança de lado? Por que será que perdemos essa pureza, essa alegria? Ser adulto é estar fadado a uma vida que nos dá mais desprazer do que alegria?
Quando criança, lembro-me de me preocupar apenas em brincar o máximo possível antes que o dia tivesse fim. Não queria parar de brincar porque descansar significava menos tempo de diversão, isso sim que era ruim. Adorava quando minha mãe me deixava ficar até mais tarde, o tempo sempre passava tão rápido. Hoje não vejo a hora de chegar em casa, me esticar no sofá ou me jogar na cama, ligar a TV e ficar ali até cair no sono. É inaceitável que meu chefe me peça para fazer um relatório que levará 15 min sendo que meu horário de trabalho encerra em cinco.
São 7h da manhã, não tenho mais tempo a perder com futilidades da vida. Tenho que tomar banho, me arrumar, comer e ajeitar a cama em 15 min, para dar tempo de sair de casa antes que se inicie aquela fila quilométrica de carros. São quase 8h e ainda não cheguei no escritório, se eu me atrasar novamente terei de compensar as horas, isso significa trabalhar até mais tarde e hoje é sexta, estou a um passo de fim de semana, quero relaxar, me divertir, fazer qualquer coisa longe do estresse.
Nesse dia não reparei como o céu estava limpo e sem nenhuma nuvem cobrindo o seu azul, porque olhava para baixo enquanto procurava as chaves do carro. Não consegui ouvir o canto dos pássaros que saíram voando assustados quando sai correndo de casa e bati a porta. Não reparei nas crianças que brincavam na praça enquanto eu xingava o motorista da frente que estava distraído. Não reparei nas folhas das árvores caindo ao meu redor enquanto juntava a pilha de papéis que deixei cair quando cheguei no escritório. Não reparei no sol que brilhava lá fora enquanto olhava fixamente a tela do computador. Não reparei que o dia se passou na frente dos meus olhos enquanto olhava o relógio e contava os minutos para ir embora.
Talvez ser adulto seja mesmo estar fadado a uma vida desprazerosa, mas nós mesmo nos destinamos a isso. Nós não escolhemos crescer por fora, mas escolhemos crescer por dentro e a partir do momento que determinamos que a obrigação é mais valiosa que a diversão, deixamos nossa criança adormecer, só que no outro dia ela não irá acordar para continuar brincando.
Nenhum comentário:
Postar um comentário